Não há raça de gente mais evasiva com as palavras do que os jogadores de futebol. São clichês em cima de clichês. Outro dia mesmo, um deles saiu com a seguinte pérola ao responder um questionamento do repórter sobre a perda de um pênalti:
- Só perde quem bate.
Até aí, não disse nada. Barack Obama, Dilma Roussef e o Papa Francisco é que não podem perder. Eles não batem. E o mais incrível é o tom de pedantismo com que a expressão é dita. Imagino se a moda pega nos outros segmentos. Imaginem o grande escritor dizendo:
- Só comete erros ortográficos quem escreve.
Ou o maior chef do mundo sentenciando:
- Só salga os pratos quem cozinha.
Ou ainda o melhor piloto de automobilismo se defendendo:
- Só bate o carro quem pilota.
Ninguém merece. Ou seria "só merece quem faz por merecer"?
Outra expressão muito comum nas bocas dos atletas é a teimosa "comigo não é diferente".
Se eles falam sobre seleção brasileira:
- Todo jogador sonha com seleção brasileira. Comigo não é diferente.
Se o assunto é titularidade na equipe:
- Todo jogador sonha em ser titular. Comigo não é diferente.
Se uma transferência é a bola da vez:
- Todo jogador sonha em jogar na Europa. Comigo não é diferente.
Poxa. Raciocinem comigo: se todo jogador sonha, e o cara é jogador. Presume-se que com ele não pode ser diferente. Ou será que pode? Eu, hein!
E o tal "resultado positivo"?
- Vamos com tudo em busca do resultado positivo.
- Lutamos muito, mas não conseguimos o resultado positivo.
Não seria mais curto e grosso dizer "vitória"? Talvez isso não aconteça devido aos confusos regulamentos do nosso futebol, em que uma equipe pode se beneficiar com a própria derrota. Aí, pasmem, a desgraça se transforma em resultado positivo. Ou seja, acaba sendo uma expressão que pode assumir múltiplos significados. Coisas da província tupiniquim. Mas isso pouco importa, não é? Afinal, futebol é bola na rede.
Marcos Vitor